Universidade,
movimentação constante de pessoas durante o intervalo. Primeira semana de aula,
e o rapaz já havia sofrido com os inevitáveis trotes (teve seus cabelos
cortados e a cabeça pintada com umas cinco cores, bem como sua roupa – além do
rosto, que recebeu escritos ininteligíveis de tinta guache, ou semelhante).
O
rapaz se sentia deslocado. Porém, já teve um momento que mexeu com ele: uma das
garotas que estavam organizando o trote e bagunçando com as pessoas, o deixou sem
reação, com a guarda baixa enquanto era “apunhalado” por ela durante a
brincadeira que os calouros sempre sofrem. Loira (mas com os cabelos
chamuscados de tinta especial verde), pele clara e delicada como seda (mas com rosto
e braços rabiscados), calça e camiseta rasgados... E ele ainda pôde vislumbrar
seus belos olhos azuis, que mais pareciam faróis de tanto brilho que
irradiavam. Seria normal se seus traços estivessem escondidos sob essa “penumbra
de balbúrdia”.
Seria
o normal. Mas não com ela. Corpo delineado para chamar a atenção de todos. O
garoto simplesmente estava disponível para qualquer brincadeira que a garota
quisesse fazer com ele, inclusive empurrá-lo na piscina do campus.
Passados
os primeiros dias, sempre desorganizados e de chatas apresentações, o garoto
continua com um único norte. Só tinha olhos para ela, a loira do trote – agora,
com suas roupas normais, suas maquiagens, seus batons, seus saltos altos, seus
colares, seus anéis... Se no dia trote o rapaz já ficou deslumbrado com sua
beleza, agora estava mais embasbacado do que nunca.
Queria
conversar com ela (que fazia um curso diferente do seu) durante os intervalos,
mas, por estar sempre rodeada de amigas e amigos, isso se tornava um tanto
complicado para ele e para qualquer um que quisesse se aproximar.
Era
a garota mais bela do recinto. Chamava para si os holofotes, mas parecia não
ligar para isso (prova disso é que era solteira – havia recém terminado uma
relação de 2 anos).
Todos
os dias, ele se sentava à porta da biblioteca, num corredor que dava de frente
para a lanchonete onde a menina de seus olhos se sentava todos os dias para se
alimentar e prosear com sua turma. Punha-se a folhear livros que nunca leu. Na
verdade, ele estava à espera do dia e do momento exato para se aprochegar à
moça. Mas isso parecia impossível...
Cansado
de esperar, na semana seguinte, foi até o balcão da lanchonete e pediu um café.
Desta feita, ela estava apenas com uma amiga e sentada nos bancos do mesmo
balcão em que ele se encontrava, a poucos metros de distância. Propositalmente
ou não, quando o café lhe foi servido, de um jeito atabalhoado, ele o derramou
sobre o mármore... Sem jeito, mas já arrancando um sorriso delicado de quem
menos esperava, pegou panos e limpou a sujeira que fez.
A partir daí, desenvolveu-se
o tão sonhado diálogo com a bela garota – ainda não da forma como ele queria,
mas já era um bom (apesar de atrapalhado) começo. Falou-se sobre acidentes do
dia a dia, como esse que acabaram de presenciar. Gargalhadas rolaram à beça. A
amiga da moça (que também era de um curso diferente) voltou para a sala mais
cedo, pois tinha tarefas a terminar. Finalmente, estavam a sós. Finalmente ele
pôde olhar naqueles olhos da forma como queria, de uma maneira carinhosa,
misteriosa e, ao mesmo tempo, “desafiadora”... Foi o primeiro momento verdadeiramente
juntos. O primeiro de muitos, mas ele jamais se esquecerá daquele dia.